domingo, 7 de março de 2010

Oscar 2010 – Parte final

Daqui a pouco tempo a cerimônia terá início, mas é como se diz, antes tarde que nunca...


O texto a seguir contém spoilers!





Um sonho possível



Nesse tocante filme baseado na história real de um atleta do futebol norte-americano, somos apresentados a Big Mike, interpretado por Quinton Aaron, um problemático adolescente. Após ser matriculado em um colégio de ricos pelo último de seus muitos pais adotivos, Mike conhece a família de Leigh Anne Tuhue, uma madame meio perua, meio cristã interpretada por Sandra Bullock. A partir daí acompanhamos os personagens envolvidos nessa história de superação. O filme é daqueles dramas familiares feitos para atingir o telespectador, mas se sobressai graças às boas atuações e o roteiro cativante.



Distrito 9



A ficção com linguagem de documentário do diretor Neill Blumkamp é, de longe, o mais distante do perfil do Oscar entre os indicados. Cheio de metáforas sociais, o filme conta a insólita situação de um gueto alienígena formado na cidade sul-africana de Joanesburgo. Há 20 anos presos na cidade com sua nave-mãe flutuando quilômetros acima do local que nomeia o filme, os “camarões”, nome pejorativo que os humanos usam para se referir aos visitantes especiais, serão removidos pelo governo para um local distante dos olhos da população. A partir daí o filme se torna um game com armas extraterrestres e um humano infectado por DNA alien. Surpreendente!



Agora é fazer pipoca e assistir a cerimônia, que começa em meia hora!





By Doutor Estranho

sexta-feira, 5 de março de 2010

Oscar 2010 – Parte 2

Prossseguindo com os indicados a Melhor Filme do Oscar 2010...

O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS!

Up – Altas aventuras



Não é fácil aprender a lidar com perdas. Lidar com a morte de um ente querido é um desafio na vida de todo ser humano. E é exatamente sobre o luto que fala o novo filme da Pixar, dirigido por Pete Docter, que já nos 10 minutos iniciais nos apresenta uma sequência emocionante. Mas como todo filme inteligente, Up não se restringe a esse tema. O filme também fala sobre problemas familiares, a frustração de sonhos não realizados, o destino de quem se deixa levar por suas obsessões e sobre não ser aceito no grupo. Ah, e provoca muitas gargalhadas. Recomendo aos que gostam de rir e também aos que gostam de chorar, independente da idade!

Um homem sério



Assim como Bastardos é marcado pelo estlilo de Tarantino, Um homem sério tem a marca dos irmãos Joel e Ethan Coen. Seja nos planos de filmagem gravados de forma lenta,  no humor negro ou no simbolismo presente em muitas cenas, o filme leva a assinatura dos Coen. Pessoalmente só entendi o início após metade do filme, por conta da opção dos irmãos de contar uma história para ilustrar um hipertexto  ou uma idéia maior. Se por um lado isso abre uma riqueza de interpretações e questionamentos, por outro deixa muitos telespectadores insatisfeitos. Apesar de ter me irritado muito com o azar do protagonista na primeira metade, na segunda me encantei com a crítica dos diretores.     

Educação



Jenny, interpretada por Carey Mulligan, é estudante em uma conservadora escolade Londres, na qual passa os dias tirando as melhores notas e sonhando em um dia viver uma extasiante vida cultural em Paris. Para tanto ela se esmera para entrar em Oxford, sonho imposto por seu pai - interpretado impecavelmente por Alfred Molina. Até que surge o charmoso e perspicaz David, interpretado pelo excelente Peter Sarsgaard (sou fâ mesmo!), que pode realizar os sonhos da mocinha. Educação é um trabalho caprichado da diretora Lone Scherfig e de imediato nos remete a Gilmore Girls, com suas devidas adaptações. O problema são os clichês envolvidos e aquela velha idéia de que é o vestibular que vai definir a vida de um estudante.

Guerra ao Terror



As duas horas do filme de Kathryn Bigelow irradiam adrenalina e testosterona. Focada nas missões da companhia Bravo de fuzileiros, responsável por desarmar bombas que ameacem civils e soldados americanos durante a ocupação do Iraque, a história retrata o quão enlouquecedora pode ser uma guerra. Mais do que o medo, a culpa ou os pensamentos suicidas, o vício pela ação é o distúrbio que pode custar mais caro aos personagens. O ritmo é frenético e pontuado pela contagem dos dias para o regresso para casa. No fim, Guerra ao Terror é um retrato inquietante sobre os soldados que atuam na guerra e a população que é vítima desses conflitos. Pode ser também a melhor vingança que uma mulher já aplicou ao seu ex-marido, uma vez que é beeem superior à Avatar.

Antes da premiação do Oscar publicarei os textos sobre os dois filmes que faltam: Distrito 9 e Um sonho possível. Aguardem!

By Doutor Estranho

quarta-feira, 3 de março de 2010

Oscar 2010 – Parte 1

No próximo domingo, 07/03, será realizada a 82º cerimônia de entrega da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.  Nessa edição estão concorrendo na categoria de Melhor Filme dez produções, o dobro dos anos anteriores. Como preparativo para a premiação, resolvi assistir os 10 concorrentes, apesar da dificuldade por não ter todos disponíveis nos cinemas de Manaus. Registro aqui opiniões sobre cada um dos candidatos.


O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS!

Bastardos Inglórios



A obra de Quentin Tarantino estreiou internacionalmente durante o festival de Cannes. O filme tem como principais marcas as atuações de um grande elenco encabeçado por Brad Pitt e o estilo já consagrado do diretor: diálogos marcantes, personagens excêntricos e cenas de tensão que inevitavelmente acabam em um tiroteio frenético. Destaco as atuações de Cristopher Watz como o coronel nazista Hans Landa e Melánie Laurent como a judia Shosana. A cena que mais me impressionou do filme foi a vingança dessa última, ao colocar fogo em seu cinema com a elite nazista presa na sala de exibição. Demais!

Avatar



O grande blockbuster dessa edição do oscar é Avatar, do diretor James Cameron. Mesclando personagens 3D com “pessoas de verdade”, o roteiro do filme é meio clichezão, com direito a um personagem “escolhido”, que conquista a confiança da mocinha para depois revelar que trabalhava para os “caras maus”.  A diferença é que a ação se passa num futuro distante, no exótico e selvagem planeta Pandora, onde o povo alienígena Na’Vi resiste aos avanços de uma empresa mineradora humana. As cenas de ação são fantásticas, assim como a trilha sonora. Gostei de ver Sigouney Weave e Michelle Rodriguez (Lost!) nos papéis da Dr. Grace Agoustine e da piloto Trudy, respectivamente.

Preciosa – Uma história de esperança



Forte. O filme de Lee Daniels conta a história de Claireece Preciosa Jones, interpretada magistralmente por Gabourey Sidibe. Maltratada e abusada sexualmente dentro de casa, Preciosa é negra, obesa, mora em um bairro perigoso e está grávida pela segunda vez de seu próprio pai. Com tantos problemas, ela tem dificuldades se comunicar e foge da realidade sonhando em ser uma importante celebridade para esquecer suas mazelas. Isso apenas no início do filme, pois, por mais que se esforce para melhorar de vida, outros problemas ainda irão surgir na vida da protagonista. Destaque para sua mãe, interpretada por Mo’Nique, que eu já considero como uma das melhores vilâs do cinema nessa década.  

Amor sem escalas



No Brasil o título em portugês do filme não ajudou muito quem estava indeciso na hora de ir ao cinema. Apesar disso, o filme de Jason Reiman foge ao comum com diálogo afiados e boas atuações. George Clooney interpreta Ryan Bignham, funcionário de uma empresa contratada para demitir da “melhor” forma possível funcionários de outras empresa. Além de contar histórias comuns nos dias de hoje – algumas das reações de quem é demitido são impressionantes, o filme aborda os excessos da cultura workholic. Destaque para Vera Farmiga no papel de Alex, uma mulher que tem muito em comum com Bignham e para  Natalie, interpretada por Anna Kendrick, sua nova colega de trabalho.

By Doutor Estranho

segunda-feira, 1 de março de 2010

RELATO SOBRE O GRITO MANAUS

Abro aqui um espaço para o seguinte texto que me foi encaminhado por um dos membros da organização do evento e do Coletivo Difusão. 


Estive presente na noite do dia 20 de fevereiro e vi os moradores das casas mais próximas dançando ao som das bandas que tocavam. Saí cerca de meia hora antes da festa ser encerrada. 






"O ‘Grito Manaus’ foi um evento de artes integradas realizado pelo Coletivo Difusão em duas etapas com caráter de manifestação cultural. A primeira etapa do grito foi realizada no dia 16 e a segunda dia 20 de fevereiro.


No dia 16 foi realizado o lançamento do Fora do Eixo Manaus em parceria com o Coletivo Cuia, no espaço cultural da livraria valer. Com entrada franca e a participação de aproximadamente 50 pessoas, a primeira etapa também contou com uma mesa redonda formada por produtores, músicos e articuladores para discutirem a importância dos coletivos na produção cultural independente. A programação ainda contou com a apresentação da banda Playmobils e a performance do DJ Marcos Tubarão.

Dia 20 foi realizada a segunda etapa do Grito embaixo do viaduto da Constantino Nery de forma gratuita, 10 bandas, interferências poéticas, cênicas e visuais, performances e exibições de vídeoartes, videoclipes de bandas locais, videodanças e documentários locais feitos sobre música fizeram parte da programação naquele dia. As primeiras exposições do Laboratório de moda do Difusão foram feitas, bem como a nossa primeira transmissão ao vivo de um evento pela rádio web.

O Grito Manaus no dia 20 foi produzido pelo Coletivo Difusão em parceria com a Baruk Produções e com a mobilização da classe artística da cidade em caráter de manifestação cultural. O evento não teve apoio de nenhuma secretaria de cultura ou empresa privada, e reuniu mais de 2 mil pessoas em um espaço público em ócio.
Nosso objetivo em produzir o Grito Manaus com caráter de manifestação/interferência urbana foi feito para promover a identidade cultural da cidade de Manaus, a valorização de espaços públicos e fomentar a formação de público e a produção artística independente da cidade e da região, já que duas bandas (uma de Belém e outra de Boa Vista) participaram do Grito.

Desde 2006 realizamos eventos/interferências urbanas na cidade. E especialmente embaixo do viaduto da Constantino Nery já realizamos outros quatro eventos/interferências lá. Tais eventos em caráter de manifestação são respaldados pela Constituição Federal que nos garante promover essas ações na cidade.

O parágrafo IX do artigo 5º da constituição diz que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. E segundo o parágrafo XVI do mesmo artigo, “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.

Bom, a Constituição foi citada neste relato para dizer que infelizmente a Polícia Militar do Amazonas se colocou acima da constituição e interrompeu de forma autoritária nosso Grito. À 1h a polícia chegou ao local desligando o som, subindo no palco, sem conversar com os organizadores e só não agrediram os músicos porque impedimos, mas até spray de pimenta foi jogado na direção dos que tentavam registrar o momento.

A ‘interferência policial’ feita por várias viaturas foi realizada 30 minutos depois que protestamos contra as secretarias de cultura do Município de Manaus e do Estado do Amazonas.

Em conversação com a PM eles pediam uma autorização para estarmos ali, então explicamos tudo. Que estávamos respaldados pela Constituição. Que não precisávamos de autorização. Que precisávamos apenas informar os órgãos. E acrescentamos ainda que o Grito fora amplamente divulgado nos principais veículos de comunicação da cidade, com matérias em jornais e rádios e inserções da vinheta do grito na Globo local, que abre espaço para publicitar gratuitamente eventos de promoção cultural sem fins lucrativos.

E a resposta do sargento da PM foi de que o que estávamos fazendo não era uma manifestação cultural. Segundo o PM, uma manifestação só é feita por secretarias ou órgão do governo. Ele também disse que as mais de 2 mil pessoas presentes no evento não representavam a sociedade, porque eram todos iguais e portanto o que estávamos fazendo não era uma manifestação cultural. ? Como assim?

Nós conseguimos reunir seguimentos artísticos diferentes para um público mais do que diversificado. E o policial de forma preconceituosa falou que as pessoas que lá estavam eram nada! Sem contar que no evento não teve uma única confusão, o que foi reconhecido pelo PM, que afirmou ter passado pelo local várias vezes durante a noite sem ter visualizado qualquer tumulto.

É, mas os PMs não pararam por ai, disseram que a cultura não era algo tão bom quanto acreditamos, porque segundo o sargento, “a cultura fez com que a população não gostasse da polícia”.

Chegamos a argumentar que a paralisação do evento poderia gerar um tumulto generalizado e então o policial nos ameaçou afirmando que tumulto não era problema, porque ele poderia aumentar ainda mais o efetivo de policiais e parar na porrada qualquer problema.

Nós poderíamos continuar o evento, porque estávamos no nosso direito, mas eles estavam dispostos a insistir em calar o Grito. Preocupados com a segurança de todos, já que isso poderia gerar sim um tumulto, insistimos em um acordo para que pelo menos a banda Iekuana de Boa Vista (que viajou por conta própria mais de 12h para estar lá) tocasse. Então, o acordo acabou sendo feito para que o evento fosse encerrado faltando ainda a apresentação de outras quatro bandas.

Os PMs alegaram que o evento deveria ser paralisado, porque moradores da área fizeram reclamações de barulho. Nós realizamos interferências culturais naquele mesmo local outras quatro vezes em três anos. Nunca houve qualquer reclamação, mesmo com o fato de alguns dos eventos terem acabado às 6h.

O mais curioso é que existem poucos moradores próximo do viaduto. Um deles chegou a ir com o PM para falar que já havíamos realizado outros eventos lá e que os moradores não se sentiam incomodados. Sem contar com o fato do viaduto ficar em frente a uma casa de shows que realiza periodicamente eventos que chegam a fechar a rua e que nunca são paralisados.

Enfim, nenhum argumento funcionou e a intransigência prevaleceu.

Estamos enviando esse email para relatar tais fatos que repudiamos por completo.

E para enfrentar de frente e de forma inteligente o que aconteceu vamos realizar a continuação do Grito Manaus no mesmo lugar e em data que ainda será definida com a participação das atrações que foram impedidas pela polícia de se apresentarem.              

Mas agora iremos nos munir de outros artifícios jurídicos para fazermos valer nosso direito de nos manifestarmos artístico/politicamente sem que a polícia possa desta vez nos ‘barrar’.

Nessa mesma esteira pretendemos ampliar essa discussão para causarmos uma reflexão e esclarecimento sobre a importância das manifestações artísticas na cidade. Por isso vamos organizar um fórum sobre a ocupação de espaços públicos por movimentos artísticos. Desse fórum, que ainda terá sua data e local de realização definidos, deve ser feito um documento para contribuir com um assunto ainda pouco debatido. 

Pretendemos compartilhar esse documento com todos do Circuito Fora do Eixo e com simpatizantes do Coletivo Difusão para que as discussões sejam ampliadas ao máximo. Também estamos produzindo um documentário sobre o Grito Manaus que terá essas questões aqui relatadas abordadas em seu conteúdo


Coletivo Difusão"