domingo, 6 de julho de 2008

Ensino Técnico-Superior


Já faz um tempo que venho me queixando para os colegas de sala a respeito das matérias que ando pagando esse período. Toda “tecnicice” e pobreza de idéias que permeiam grande parte do jornalismo atual. Texto simples, enxuto, de fácil assimilação e poucas, pouquíssimas idéias.

Em uma das disciplinas, uma colega dia desses expressou que “Estou cansada de ouvir sobre a consciência do jornalista, quero saber é como escrever matérias”, exigindo o direito de aprender apenas técnica. E entre essas e outras, vemos pessoas totalmente despreparadas ingressando no mercado de trabalho prematuramente e sem a mínima compreensão do papel que vão desempenhar socialmente.

Algum tempo atrás o Clayton já escreveu sobre isso em seu blog. Na última sexta-feira, a Rachel enviou um e-mail para os colegas de sala falando sobre o tema de forma ainda mais explícita. Após dois primeiros anos estudando teórica e academicamente comunicação social (ainda que de forma, por vezes, precária) os últimos dois anos do curso são marcados por matérias de produção e técnica isolada.

E isso não se restringe apenas ao jornalismo. Em administração eu também vi pessoas sem o mínimo discernimento sobre o papel de um gestor público se formando. Estudei matérias meramente técnicas, mesmo no que diz respeito ao relacionamento entre pessoas numa organização.

Estamos falando de estudantes universitários, pessoas que compõem a reduzida nata dos ingressos no ensino superior em nosso país. Podemos ser artistas plásticos, publicitários, agrônomos, advogados, jornalistas e professores com compreensão do mundo que nos cerca ou simples reprodutores dos sensos comuns que nos cercam.

As idéias superficiais (preconceitos) atingem todas as áreas, não são segmentadas. A problemática ambiental não diz respeito apenas aos ecologistas. A mídia especulativa não afeta apenas os jornalistas. Podemos ter um campo de atuação restrito ou específico, mas ainda somos indivíduos vivendo num contexto social.

Não se trata de uma conspiração de alguma classe social, nem de um holding capitalista interessado em controlar o mundo. Simplesmente são idéias existentes dentro de nós mesmos. Carregamos isso. Veio junto com outros “genes culturais”, herdados no processo educacional, endossados e fortificados no ensino superior.

E você, como lida com isso? Procura entender a reforma agrária ou apenas acredita nas manchetes dos jornais?

Livro: Pé na Estrada

Música: Cartola

By Doutor Estranho

5 comentários:

Mônica disse...

O livro!
O sambista!

É, amigo, o amor desvairado pelo senso comum, a vontade insana de aprender formulas mágicas para produzir qualquer coisa em larga escala.... de textos jornalisticos a soja, de petiçoes judiciais a tênis... a pos modernidade transformou os universitarios num chão de fábrica intelectual em que muitas vezes o estudante se parece com o carlitos de tempos modernos, repetindo o mesmo movimento vez apos vez.

Clayton disse...

Um outro debate seria como discutir ética e teoria em sala. E como aplicá-la nas atividades. Como já disse, o tempo da sala de aula é curto e, com todos os contratempos, não está tão mal servido.

Discursar nos blogs pode ser uma solução. hehe

e aí, fez boa prova?

abraço

Tory Oliveira disse...

Lá em SP comentam que a Cásper é uma faculdade 'técnica', enquanto que a USP é 'teórica'. Comparada com a UFAM, a Cásper é bem mais técnica mesmo.

Se por um lado isso permite que a gente comece a trabalhar logo, por outro causa deficiências dificeis de sanar mais tarde. Muita gente acaba fazendo duas graduações: Ciências Socias e Cásper, Letras e Cásper..procurando preencher a lacuna teórica. É uma das soluções possíveis, mas é também a mais trabalhosa.

(Blé. Se bme que o povo lá da sala reclama se a professora de português teoriza um pouquinho 'ai, pra que eu vou usar isso?'. Acho que falta maturidade intelectual pra muita gente. Ruim pra eles, pior pra nós. :/)

:*

Unknown disse...

Difícil dizer alguma coisa no meu caso porque - e isso não é de hoje - sempre fui uma pessoa mais técnica que teórica, mas acho que, quando se trata do meio acadêmico, o que está em questão não é o simples aprendizado de uma profissão (até porque, para isso, sempre houveram os cursos técnicos), mas a produção de conhecimento. Você não entra numa universidade apenas para aprender um oficio e ganhar um diploma para enfeitar sua parede; é um lugar de discussão e compartilhamento de idéias. Já vi muitas pessoas que tiveram suas visões de mundo drasticamente alteradas após a faculdade, assim como outras que não mudaram em nada... talvez isso varie de pessoa pra pessoa mesmo.

(mas, para meu contentamento, o número de pessoas que mudaram após o ingresso na faculdade ainda é maior que o de pessoas que não mudaram) ^^"

capostipite disse...

bah... essa discução vai muito longe.. e tem problemas na fundamentação educacional.. deveriamos ter uma formação priméria muito mais prática.. mais própria a nossa realidade.. mas o q podemos fazer? Já que sabemos dos problemas.. podemos nos colocar em posições que possibilitem a mudança.