Obras com nuances bibliográficas ou relatos de experiências próprias não são incomuns na literatura, mas é provável que em poucas delas um autor tenha exposto tanto sua intimidade e fraquezas quanto em De Profundis, escrito por Oscar Wilde.
O livro é na verdade uma grande carta escrita pelo autor durante os dois anos que passou na prisão de Reading, Inglaterra. Como era proibido de enviar cartas, Wilde escreveu o manuscrito que só pôde sair da prisão junto com o autor. O destinatário era o jovem Lord Alfred Douglas, seu amante e protagonista do processo que levou o escritor para prisão (homossexualidade era considerada crime na Inglaterra naquela época). O texto trata exatamente sobre a tempestuosa relação dos dois e sobre as transformações passadas por Wilde na cadeia.
Autor de livros e premiadas peças de teatro, foi um dos fundadores do “movimento dandista”, que defendia que o belo da arte era o antídoto para os horrores da sociedade industrial. Premiado, rico, bem casado e respeitado intelectual, Wilde era bem quisto pela tradicional sociedade londrina.
Mas quando seu caso com Alfred Douglas vem à público sua vida muda completamente. Após três julgamentos é preso e perde sua fortuna. Sua mulher e filhos fogem para Irlanda e ele amarga dois anos em Reading.
E o que um intelectual falido, magoado e abandonado faria para passar o tempo na cadeia? Escreveria. E muito bem! A primeira parte de De Produndis é a narrativa da relação de Wilde com Douglas, escrita com ódio e muita qualidade. Wilde usou todo seu talento para descrever o desgaste causado em sua vida pelo seu amante, sua falta de escrúpulos, a relação com os pais do jovem e seus hábitos extravagantes que eram financiados pelo escritor.
Na segunda metade, a narrativa toma contornos mais calmos, o autor descreve a mudança de seus sentimentos em relação ao antigo amante e chega mesmo a assumir que viveu uma vida superficial. Oscar fala sobre sua nova compreensão da vida de Jesus Cristo, mesmo sem ter se convertido, e de como a beleza e o amor que cultivou no cárcere o auxiliaram mais que o ódio e o rancor que poderia nutrir por seus inimigos. No fim da carta, um aceno de que Douglas fora totalmente perdoado.
Nunca saberemos se a versão de Wilde é completamente verdadeira. Mas isso não tira o brilho do texto, que talvez seja a maior vingança que poderia recair sobre seu ex: fez o tal Douglas entrar para história como um homem fútil, leviano e imaturo. Impossível não odiá-lo completamente após o final da leitura.
Como algumas pessoas já me avisaram antes, a moral da história é: se você namorar escritores, lembre-se de terminar o relacionamento da forma mais tranqüila possível. Um escritor rancoroso é um inimigo que ninguém gostaria de ter!
E você, já leu alguma obra do Wilde?
Música: Mallu Magalhães
Livro: O Retrato de Doryan Gray
By Doutor Estranho
2 comentários:
o que mais me impressionou nesse livro foi a sagassidade dele em dizer q nenhuma das cartas do "Bossy" fora ou jamais seria publicada (como de fato aconteceu) mas que a primeira coisa ue aconteceria com aquele manuscrito seria sua publicação... ele conhecia o namorado que tinha...
(não namorar escritores rancorosos: ficadica eterna.)
todas as cartas de amor são ridículas. as de ódio, nem tanto.
te amo
:*
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