Quando eu fiquei sabendo da decisão do Superior Tribunal Federal (STF), quis escrever algo a respeito. Mas estava meio chocado. Preferi me acalmar e pensar mais. Pouco após começar a escrever, eu li o post do Felipe no Café de Onça sobre o assunto. O texto me intrigou, principalmente por eu e o Felipe nos conhecermos do curso de Jornalismo.
A primeira coisa que pensei ao saber da decisão é que a universidade não foi estruturada para que as pessoas aprendessem técnicas profissionais. Para isso existem cursos técnicos. Uma formação universitária pressupõe MUITO mais. Já escrevi sobre isso aqui.
Não compartilho a mesma opinião do Felipe a respeito do que se aprende no curso de jornalismo. Estou há 4 anos na universidade e de vez em quando sinto que ainda tenho muito o que aprender! Não culpo os professores por isso e nem me considero (muito) relapso. Simplesmente entendo que me foquei nas aplicações que mais gostava na área de atuação jornalística.
Não vejo a derrubada da obrigatoriedade como uma exclusão das pessoas formadas do mercado de trabalho. Quem tem qualidade vai conseguir seu espaço. O problema é a inclusão de pessoas que atendam requisitos técnicos mas que não tenham conhecimento teórico ou noção de ética em veículos de comunicação.
Ah, e existe outra infeliz conseqüência da decisão do STF: a partir de agora os recém-formados irão concorrer a vagas nas quais a renumeração inicial será correspondente a quem tem ensino médio. Acredito que ao competir com pessoas sem faculdade, a maioria dos bacharéis em jornalismo serão aprovados nas seleções, mas não terão mais a garantia de um piso salarial... Não me parece justo após 4 anos de faculdade.
Li várias matérias e blogs sobre o assunto. Quem defende a decisão do STF sempre cita os raríssimos casos de pessoas sem formação que se tornaram jornalistas famosos. Parece-me um argumento bem fraco. Eu conheço muitas pessoas nessa situação que trabalham em TVs, rádio e jornais locais e não produzem material de qualidade. Esse pessoal é a regra, os Rodrigues (citados no Café de Onça, por exemplo) são uma saudosa exceção.
Desde 2001 muito se falou sobre a questão talento versus diploma de jornalismo. Acho que é a isso que o Felipe se refere em seu texto, quando fala sobre “coisas a mais que o jornalista precisa”. Se for o caso, concordo que talento não se aprende em curso algum. Mas, se talento não se ensina na universidade, será ensinado aonde? No ensino médio? Jornalismo também não é só talento...
Pro fim, meu colega de curso afirmou em seu texto que vai ser difícil encontrar pessoas querendo atuar como jornalistas. Eu vou finalizar o meu com duas idéias que tenho sobre isso: políticos oportunistas, que já fazem curral eleitoral por meio de programas de auditório, e pseudo-celebridades, que costumam se promover participando de reality-shows.
Enfim, um grande abraço para o Felipe. Ah, e acabei de ler o texto do Leseira Baré sobre o mesmo assunto. Recomendo a todos.
E você, o que pensa sobre isso?
Livro: Janelas do Ciberespaço, A Aventura da Reportagem e Estrutura da Notícia.
Música: Caetano Veloso - Caetano Veloso.
By Doutor Estranho