quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cada vez mais longe...


Quando eu fiquei sabendo da decisão do Superior Tribunal Federal (STF), quis escrever algo a respeito. Mas estava meio chocado. Preferi me acalmar e pensar mais. Pouco após começar a escrever, eu li o post do Felipe no Café de Onça sobre o assunto. O texto me intrigou, principalmente por eu e o Felipe nos conhecermos do curso de Jornalismo.

A primeira coisa que pensei ao saber da decisão é que a universidade não foi estruturada para que as pessoas aprendessem técnicas profissionais. Para isso existem cursos técnicos. Uma formação universitária pressupõe MUITO mais. Já escrevi sobre isso aqui.

Não compartilho a mesma opinião do Felipe a respeito do que se aprende no curso de jornalismo. Estou há 4 anos na universidade e de vez em quando sinto que ainda tenho muito o que aprender! Não culpo os professores por isso e nem me considero (muito) relapso. Simplesmente entendo que me foquei nas aplicações que mais gostava na área de atuação jornalística.

Não vejo a derrubada da obrigatoriedade como uma exclusão das pessoas formadas do mercado de trabalho. Quem tem qualidade vai conseguir seu espaço. O problema é a inclusão de pessoas que atendam requisitos técnicos mas que não tenham conhecimento teórico ou noção de ética em veículos de comunicação.

Ah, e existe outra infeliz conseqüência da decisão do STF: a partir de agora os recém-formados irão concorrer a vagas nas quais a renumeração inicial será correspondente a quem tem ensino médio. Acredito que ao competir com pessoas sem faculdade, a maioria dos bacharéis em jornalismo serão aprovados nas seleções, mas não terão mais a garantia de um piso salarial... Não me parece justo após 4 anos de faculdade.

Li várias matérias e blogs sobre o assunto. Quem defende a decisão do STF sempre cita os raríssimos casos de pessoas sem formação que se tornaram jornalistas famosos. Parece-me um argumento bem fraco. Eu conheço muitas pessoas nessa situação que trabalham em TVs, rádio e jornais locais e não produzem material de qualidade. Esse pessoal é a regra, os Rodrigues (citados no Café de Onça, por exemplo) são uma saudosa exceção.

Desde 2001 muito se falou sobre a questão talento versus diploma de jornalismo. Acho que é a isso que o Felipe se refere em seu texto, quando fala sobre “coisas a mais que o jornalista precisa”. Se for o caso, concordo que talento não se aprende em curso algum. Mas, se talento não se ensina na universidade, será ensinado aonde? No ensino médio? Jornalismo também não é só talento...

Pro fim, meu colega de curso afirmou em seu texto que vai ser difícil encontrar pessoas querendo atuar como jornalistas. Eu vou finalizar o meu com duas idéias que tenho sobre isso: políticos oportunistas, que já fazem curral eleitoral por meio de programas de auditório, e pseudo-celebridades, que costumam se promover participando de reality-shows.

Enfim, um grande abraço para o Felipe. Ah, e acabei de ler o texto do Leseira Baré sobre o mesmo assunto. Recomendo a todos.


E você, o que pensa sobre isso?


Livro: Janelas do Ciberespaço, A Aventura da Reportagem e Estrutura da Notícia.

Música: Caetano Veloso - Caetano Veloso.


By Doutor Estranho


Um comentário:

Felipe Carvalho disse...

mas o pior é q a profissão nunca teve a total manutenção dessas garantias: jornalistas trabalham horas a mais e não recebem extras e há casos em que o piso salarial nem é respeitado.

Quando eu soube da derrubada da obrigatoriedade do diploma, me perguntei: e era obrigatório??

pois vemos o oposto disso.

Hemanuel, quantas pessoas que conhecemos na faculdade e ainda nem formaram já foram contratados como profissionais?

sobre salários e garantias, acho que a qualidade de produção individual fala mais alto que um diploma.

as pessoas fazem piada dizendo que "agora, qualquer um pode ser jornalista". apesar de tudo, eu acredito que não. deixo para o mercado de trabalho e o consumidores de notícias sentenciarem quem pode (e irá) exercer o jornalismo ou não.

continuo fazendo a minha parte.